26.6.09

foi facil a iniciativa tomada por impulso como um corte no pulso que aqueles dão quando se encontram desesperados, ou como o pulo pra liberdade que outros dão quando a felicidade é tamanha que o tamanho do mundo é pouco e você sente ser capaz de abraçar o globo.

foi facil demais escrever palavras tortas
desenhar linhas certas
envirgular frases desconexas.

mas não é facil esquecer você.

você que em mim está e nem idéia faz, que ao beijar outro rapaz o nivelamento das sensações não é atingido e a escala negativa se transforma, como escala de um a mil, como um zero absorto sendo o equilibrio do meu desejo não saciado, nem pedido concedido.

espessa camada de tolerancia e inconstante fluxo de pensamento.

retomo meu amor por você como aquela instancia entre a meia vontade de bem-querer e meia vontade de bem-ser-querida. revelo dessa forma sem sentido o sentido sem conteúdo que meus lábios não pronunciam quando forçados assim fazer.

retrocesso de um tempo em que as lamentações e desesperanças misturadas ao desejo do corpo me forçavam a forçar o interesse seu por mim. hoje passo por uma fase igual, sendo eu a importunada pelo desejo do outro. sei agora muito bem a sensação de alguem que não sabe dizer não porque não sabe o quer, apenas o que não quer. e isso talvez seja já um passo, que sem direção pode se afastar do abismo entre nós e o resto do mundo.

depende, é claro, sempre da minha indumentária... do modo como vesti meus sonhos e a cor da bolsa de planos que escolhi usar. e não existe no mundo alma abalada que não se pense como a mais triste como a minha, que recorre vez ou outra à parede invisível da distancia controlada. o beijo na testa, o aperto de mão, a poesia lida, a musica feita sem melodia. detesta-se a distancia imposta [não pelos quilometros, mas pelo espirito e a desconfiança de entregar-se a alguem]. a fragilidade que sinto hoje me impede de procurar saidas de emergencia... é como um filme que começa e em poucos minutos te captura e invade a alma e você pode ver-se ali num mundo que nem pai nem mãe pode te proteger e o caminho te impele a andar com as próprias pernas.

22.6.09

existe uma afinidade eletiva entre minha idéia de ser e o imediatismo. não é a questão de querer tudo na hora e ao meu bel-prazer... se fosse assim, seria mais simples, menos complexo, mais calmo, menos doído. porque de uma maneira recalcada de dizer declamaria a pobre frase dos homens "querer é poder" e aquela outra consoladora "nem sempre querer é poder".

reafirmo:
não é mera discursividade vazia:
é sentimento sentido, coagido.

13.6.09

sobre as coisas que vivi me debruço e esmiuço
os quatro cantos com um canto de uma nota só.

recuar nessas horas é negar a existência
e posso tudo ser, menos covarde.

assim permaneço aqui com o pedido eterno
que a vida me dê fôlego
pra ser tudo o que pode vir a ser quem tudo quer.

10.6.09

inconfundivel a sensação de que as coisas por um certo tempo podem dar certo.
incompreensivel em certo ponto
porque se tudo fosse possivel entender
a graça do mundo estaria em outro mundo.

7.6.09

e eu preciso garantir a mim que minhas angustias não voltarão ao lugar de sempre, apesar delas serem como ondas de uma praia calma que regularmente entregam-se aos ventos que sopram do norte. irreconheciveis e enraivecidas destroem os castelos de areia dos pequenos projetos de gente, de sonhos e planos. reconheço que a garantia de mantê-las em calmaria não é um trabalho fácil e não é falsa a intensão de assim fazer. mas o arrepio até dos cílios grandes que as amigas elogiam quase sempre traduz a mentira contada por mim pra meu espírito.

foi o tempo que fiquei fora e me doei aos outros que contribuiu intensamente para o sentimento de desamparo que ataca as pernas e faz delas fracos instrumentos de caminhada. o ato de doar-se nem poderia ser de valor pra alguem que se consome na solidão de um quarto frio e escuro. ninguém sabe o que é sentir tão profundamente o desapego pelo futuro descompromissado que a vida impele aos despreparados. é inato. tenho certeza. são anos de solidão que nunca seriam esquecidos com um piscar de olhos. é cicatriz mal curada. relapso.

não entendo como foi possivel fugir da rota que desde meu nascimento o peso dos olhos denunciara o sentido. meu passeio por seu mundo me distanciou do meu próprio desvendando que quando menos quero ser de alguem mais sou de mim, e como conta inversa, ser de você não me permite ser de outro. foi dessa contrariedade de sentimentos que falei outro dia com o porteiro do prédio que não moro. dessa maneira me dei conta que fui mais "verdadeira" com alguem que nunca vejo do que quem sempre me vê nua e transparente.

como pode ser? é a relação fugaz que nem vestígios deixou sobre o suporte de vida. assim resumo a ópera pra quem de fora está e sem permissão me lê e com minha permissão não me quer. ando sem saber o que fazer e rompendo meus limites, invadindo fronteiras arbitrárias e à maneira despótica pretendendo o amor. como pisar em ovos é viver à sombra de planejamentos. não serei boa o bastante pra enfraquecer o discurso comum da singularidade, porque o que me dói é perceber que são tantos como eu e até os sentimentos que julgava tão leais a minha alma não passam de fragmentos de tantos outros solitários. reconheço que a garantia que preciso não encontro a venda, mas juro que daria meus prazeres em troca de um comprimido capaz de fazer de mim apenas apenas minha.
mas é "como se houvesse definidamente uma inimizade contra mim na teia incerta das coisas"