17.5.10

eu escrevi a carta de amor mais linda que consegui, me debrucei sobre ela dias a fio, horas e mais horas de revisão. o word, coitado, perdeu as contas das linhas e caracteres, os paragrafos não cabiam na folha - saltavam além da margem - continuavam pra fora da tela, refletiam em mim e quase como um ciclo vicioso mantivemos uma relação indizivel entre autor e obra.

não falta loucura nesse momento.
não falta vontade de ser amado.
falta reserva.

mas pra minha ideia de "ser", reserva é punição, é prisão, é perda de vida. foi por isso que me mostrei transparente, falando de mim, de minhas dificuldades de articulação racional das palavras, do meu silêncio e medo de mulher, das minhas expectativas de campanhia, das minhas visões sobre um jovem homem tão indecifrável quanto um texto hebraico.

faz falta carinho nesse momento.
faz falta um beijo do amado.
não falta vergonha


dez dias se passaram, dez dias que este homem me consome silenciosamente.
sem reservas, beijos ou respostas

digo a mim e por isso escrevo hoje: é preciso manter a calma enquanto espero você.

10.5.10

com minha boca seca
coração acelerado
olhos cansados

descrevo meu corpo em poucos pontos
pontos com virgulas
travessões
interrogações


minha paixão sem nome
que d'um nada
de dentro pra fora
transformou-se
algo dizivel
um contrapasso de razão