26.8.10

Eu revirei uma mala que escondi por quase um ano. Lá estavam meus amores, minhas ansiedades de outrora e meu desejo de liberdade.
Por vias de mão dupla caminhei até agora, numa via, na verdade, muito particular, onde eu projetava naquela parte que vem do lado oposto, aquilo que eu pensava ser que poderia vir. Isto é, até agora balbuciei poucas e medíocres palavras sobre o que é viver aqui, no meio do nada, longe de tudo, onde qualquer relação, a mais intima, é superficial.... virtual... no sentido mais stritu da palavra.
Reconheço que me falta mais imediatismo nessa hora, me falta aquilo que eu mais pensava ter: a filosofia do sentir.
Pode ser discurso frouxo, porque faz tempo, já me acostumei com ele.
Pode ser também refugio perante a insanidade que é esta cidade, local onde encontramos um pouco de índio, de nordestino, de moderno, pós-moderno, porralouca, covardes.

Cheguei onde queria não chegar. A covardia tomou conta de mim nos meses anteriores, nos quais sob a balela da metodologia falida da imagem em que sequer enquadrar cenas cotidianas, como algumas vezes bem fiz, consegui me empenhar.
Faltou interesse? Juro que não.
Faltou “olhar”? também não... tenho em minha cabeça retratos de senhoras descascando macaxeira, meninos remando ou pulando no rio, homens carregando mercadorias no porto, vendedores desconfiados, pessoas felizes tomando a cervejinha diária, motos cortando ruas com fogões voando, esgoto, ratos, fumaça, castanheira, por-do-sol, casas, santos, luzes, movimento de forró, quase o cheiro desse lugar poderia estar “impresso” nas minhas imagens, imagens da cabeça, da lembrança, da memória.

Imagino que nunca poderia fazer sentir alguém o que sinto aqui.
Estou fora do lugar mas ao mesmo tempo tão dentro dele, que não consigo olhar distanciado (mas é preciso?)... a melhor maneira é não se envolver sentimentalmente (mas é possivel?)...
Por isso recorro e corro desesperadamente pra esse mundo em que palavras se transformam em pessoas e podem elas mesmas tomarem a decisão de rumar em direção as pessoas de carne,sentimento e osso, ou apenas em bits de um arquivo de texto.

Hoje elas se permitem, através de mim, encontrar os olhos de outros.

1.8.10

hoje o dia está lindo, há um céu azul, com nuvens como algodão doce, uma brisa, um vento leve. se lá fora está assim, aqui dentro tem um nó, como de marinheiro, e não dá pra desfazer.
o peito está embasado, escuro, nem poderia expressar minha maneira de sentir hoje em palavras.
porque juro, não entendo como você faz de mim o que bem quer... fico como cego em tiroteio sem saber pra onde ir.
há possibilidades lamiadas
sombra fresca
sussurro
e um soco na boca do estomago.