31.8.11

Jacqueline morreu menina.
Jacqueline morta era mais bonita do que os anjos.
Os anjos!... Bem sei que não os há em parte alguma.
Há é mulheres extraordinariamente belas que
[morrem ainda meninas.

Houve tempo em que olhei para os teus retratos de
[menina como olho agora para a pequena
[imagem de Jacqueline morta.
Eras tão bonita!
Eras tão bonita, que merecerias ter morrido na idade de
[Jacqueline
- Pura como Jacqueline

Manuel Bandeira

2.5.11

esse lugar é seco como você, sua casa é vazia como seus sentimentos quando se referem a mim. e eu, meu deus, como volto para seus braços que não me envolvem, como durmo na cama de um homem que não me deseja?

eu me pergunto essas coisas porque existe um mecanismos em mim que não consigo explicar, ou criar justificativas para as ações. esse mecanismo é um negócio estranho que me toma de assalto felicidades tão momentâneas, tão fugazes....

ao passo que me dou em poucos minutos de prazer (e um prazer tão banal) eu sofro por horas (e deus queira que não sejam dias) ao concluir que não importa muito meu desejo, vontade, meu carinho, minha atenção...
ele é alguém que não quer isso, pelo menos não de mim.

13.4.11

por um tempo me afastei das minhas palavras, pensando que sem elas os sentimentos poderiam se esconder no fundo da alma pelo periodo necessário para que o meu corpo pudesse novamente desejar outro corpo.

tentativa com meio sucesso e meio fracasso.

porque é uma mistura d'um carinho no rosto e um beijo na testa com desejos de mulher e sonhos de menina.

estou de volta ao lugar de sempre.

8.4.11

Eu sou uma moça muito nova, ainda estou aprendendo a lidar com as responsabilidades de um corpo adulto, de uma mente incoerente, com desejos incontáveis e sonhos pra lá de qualquer coisa. Por isso me apanho vezes por outra falando sozinha e ensaiando frente ao espelho diálogos com os homens da minha vida.

Busquei a maturidade quando ainda aos 14 anos decidi não viver em São João de Meriti, pra isso pouco importava que o inicio de uma vida sozinha seria no interior do estado do Amazonas ou num cafofo quente dividido com outras meninas no próprio Rio de Janeiro.
A opção do interior foi a que me surgiu primeiro, e foi algo tão inesperado mas bem-vindo que não faria sentido alocar hoje algum significado metafórico ou filosófico a ela.

Localizada no médio curso do Rio Solimões, a 500 km da capital, Tefé não se apresenta nenhum pouco atraente para alguém que chega. Seja o sol forte, o calor quente, a fala enrolada dos “nativos”, seja o mercado pequeno cheio de enlatados velhos e caros ou os córregos de esgoto que passam por todas as calçadas; talvez a comida que não é lá muito boa ou o transito caótico constituído de 95% de mototaxistas que não respeitam qualquer sinalização. Aos olhos de um recém-chegado tudo isso misturado ao fato da solidão potencial que a todos cabem, fazem dessa pequena cidade um ambiente inóspito mas que sugere boas alternativas quando o caso é você aprender a suportar você mesmo.

Encarei a tarefa com gosto e nem importava as variáveis que listei acima, não lamento por minha desatenção ou ânsia de procurar aqui um sentido maior que aquele descoberto na faculdade que após alguns anos me foi confirmado com a leitura das linhas que estão na minha mão: não conseguirei nunca separar tão bem a vida profissional da vida pessoal.

De fato, sempre vi uma coisa ligada a outra e levando em consideração algumas experiências passadas concluo que seja esse meu fardo ou vantagem.
nos próximos anos terei como confirmar essa conclusão.

6.3.11

Medos, temores e inseguranças são perfeitamente compreensíveis, mas de fato não há nada a fazer, já que os sentimentos pessoais são quase inacessíveis a não ser para quem os têm.

18.2.11

Tres vezes a transcendencia e tres vezes a imanencia em uma tabela
que fecha todas as possibilidades.

Nós não criamos a natureza; nós criamos a sociedade;
nós criamos a natureza; nós não criamos a sociedade;
nós não criamos nem uma nem outra, Deus criou tudo;
Deus nao criou nada, nós criamos tudo.


A modernidade não tem nada a ver com a invenção do humanismo, com a irrupção das ciencias, com a laicização da sociedade, ou com a mecanização do mundo. Ela e a produção conjunta dessas tres duplas de transcendencia e imanencia, atraves de uma longa história da qual apresentei apenas uma etapa por intermedio das figuras de Hobbes e Boyle. o ponto essencial desta Constituição moderna e o de tornar invisivel, impensavel,irrepresentavel o trabalho de mediação que constrói os hibridos.Seria isto capaz de interromper este trabalho? Nao, pois o mundo
moderno pararia imediatamente de funcionar, uma vez que ele vive da mistura, como todos as outros coletivos.
A beleza do dispositivo surge aqui em toda sua intensidade.
A Constituição moderna permite, pelo contrario,a proliferação dos hibridos cuja existencia - e mesmo a possibilidade - ela nega.

Usando tres vezes seguidas a mesma alternancia entre transcendencia e imanencia, e possivel mobilizar a natureza, coisificar o social, sentir a presen~a espiritual de Deus defendendo ferrenhamente, ao mesmo tempo, que a natureza nos escapa, que a sociedade e nossa obra e que Deus nao interfere mais. Quem teria resistido a uma tal construção?
Foi realmente preciso que acontecimentos inusitados viessem enfraquecer este possante mecanismo para que, hoje, eu possa descreve-lo com esta distancia e esta simpatia de etnólogo para com um mundo em vias de desaparecimento.

28.1.11

o abandonei alguns dias
por minha promessa de colorir as palavras
pelo sonho que a alma deveria sorrir.

Sorrir com todas as cores.

a prudência com doses de medo
me levou àquela rua estreita
podia ver pessoas das janelas de suas casas
jogavam flores mortas
quando o amarelo não era brilhante
e o verde das folhas um escuro de matiz indefinida.

passava dias de baixo de sua janela
podia apenas ver as cortinas
por tras delas as sombras
delineavam a forma da sua alma.

Ainda tão obscura, tão distante...

o que vi era reflexo
nos meus ouvidos frases
cores da unha com nome de café
eu sorria com os olhos
tu, desequilíbrio de minha moralidade.

Não poderia sequer me esforçar esquecer.


este ardor de amar em silencio
aceitação da forma virtual.

esperar o tempo necessário?
fato.
quando a sombra me amaria?
nunca.

a capital o tomou de mim
e tu nunca a deixastes
a mulher "pequena e bela"

Eu nunca fui sua pequena e bela.

continuo...
conforme ando
mais estreita, mais vazia
a rua ou a alma

espero...
uma cortina a se abrir
cores ou sombras

Não há o que dizer.

p/f.