28.12.10

dói muito. seria presunção dizer que dói mais em mim que em outro ser.
mas me admiro com minha capacidade de tornar tudo complicado, angustiante, lamentável.
minha alma experimenta uma inquietude característica daqueles que estão perdidos, que não compreendem muito bem seu papel no mundo, que não consegue vislumbrar um motivo real (inventado) que justifique buscar felicidade.
talvez as escolhas não sejam as mais acertadas, talvez seja o medo que sinto cortar cada osso de meu corpo.
talvez eu esteja descobrindo o quanto covarde eu sou.

tenho feito desses dias os mais cinzas que lembro, e me pergunto quando trarei para eles alguma cor.amor.coragem.

20.12.10

eu sinto nojo, vergonha e pena de mim.

há algo que impede que as pessoas sejam sinceras comigo. há também uma dose forte de minha parte de um sentimento que não sei nomear - desconfiança, talvez, desapego.
procuro classificar estas sensações e não passa de um exercício medíocre.
medíocre tal como eu mesma.

sinto que cada dia que passa fico sem lugar, fico sem amor, fico sem vida.

escrever me machuca mais do que em qualquer outro, porque é um reconhecimento silencioso da minha incapacidade de ter neste outro o carinho que preciso.
me relaciono com pessoas distantes mas não sei se é por que eu quero isso ou não consigo ser diferente.

ando por demais triste, ansiando por estar naquele mundo que inventei e é confortável. longe de mim, de minhas referências e drogada... pelo menos assim as questões não me vêm a cabeça.

por que me exponho para um homem que por vezes demonstrou sentimento algum por mim, nem quando abortei um ser que era fruto dele também.
por que apostei minhas fichas em um homem que saboreia meu sexo pensando em outras mulheres.
por que tento olhar nos olhos de pessoas que apresentam de forma fraca e dúbia aquilo que deveria ser forte, chamada por alguns de amizade.
por que não consigo enfrentar a mim mesma quando penso que nada disso vale a pena.
por que não tenho coragem de acabar com isso
porque acho que vai passar, tudo vai passar

18.12.10

é muito difícil quando você percebe sua mudança de forma tão enfática.
é um choque.
uma crise.

sempre soube da minha incongruência familiar - de pensamento, de gosto, do modo de vestir, do que ver, como falar...
mas passar esse tempo fora só expôs ainda mais tudo isso,
só potencializou minha convicção da categoria "peixe fora d'água" quando entro nesta casa.

meus irmãos cresceram, um abandonou a escola, o outro repetiu de série
...eu quase choro...

o alto nível de estresse por qual passam meus pais, faz meu nível de depressão tornar-se maior. minha decepção, meu transtorno. é muito cedo pra dizer que cansei de argumentar a favor de outros valores que não apenas a moral do trabalho...

todos meus irmãos trabalham no negócio do meu pai, mantêm a coisa na família mas não valorizam o estudo, o conhecimento, a leitura, em última instanciá, a informação.

eu sou aquela que ninguém quer ser, aquela que ler demais, que é estranha, que se veste mal, que não sabe e não entende nada daquilo que eles consideram importante.

o que aconteceu comigo?
ou
o que aconteceu com eles?

dói mudar tanto

por vezes me vejo melancólica
outras vezes finjo não me importar
por vezes passa pela cabeça a responsabilidade que tenho de dar certo na vida.
outras vezes é pesado demais.

observo do sofá o diálogo que se desenvolve na sala, ao lado da tv, entre pai, mãe e filho...finjo não escutar focando os olhos nas linhas de páginas amareladas de um velho livro.

renúncia. cansaço. basta.
não sou mais daqui.