19.9.13

me bateu uma vontade imensa de escrever sobre você, minha filha. é esquisito e tão particular. ao mesmo tempo encantador me pegar conversando com você. eu ainda não tinha imaginado sentir o que sinto agora, principalmente seus movimentos, as suas mudanças e desenvolvimento.
você tá crescendo de mim.
e gerar uma pessoa, é algo que eu, egoísta como muito tempo me achei, pensei que seria incapaz.

vejo agora, que existe muito mais amor em mim que eu não posso medir

ps.: escrevi isso faz um ano (ou quase). sara agora prestes a fazer nove meses e todos esses dias me surpreendo... como é possível a gente amar tanto assim.

1.9.12

mudei de casa, corpo e alma.

 vivo uma vida nova que chegou sem pedir licença,
 se colocou a frente dos meus planos
 e revirou um baú
(ou quase buraco negro)
onde eu escondia meus sentimentos mais verdadeiros e
 sonhos mais simples.

 amo essa surpresa boa.

23.2.12

poderíamos ser um
talvez
a parte na medida certa
do meu tamanho
ou
eu o tamanho da sua medida
[desajeitada]
É aqui dentro que tem um caroço,
um nódulo que faz dor à carne,
ao músculo, a pele, ao pelo, pela falta
de calor
corpo a corpo
torto
pouco
magro
baixo
cochicho
sonífero
onírico

31.8.11

Jacqueline morreu menina.
Jacqueline morta era mais bonita do que os anjos.
Os anjos!... Bem sei que não os há em parte alguma.
Há é mulheres extraordinariamente belas que
[morrem ainda meninas.

Houve tempo em que olhei para os teus retratos de
[menina como olho agora para a pequena
[imagem de Jacqueline morta.
Eras tão bonita!
Eras tão bonita, que merecerias ter morrido na idade de
[Jacqueline
- Pura como Jacqueline

Manuel Bandeira

2.5.11

esse lugar é seco como você, sua casa é vazia como seus sentimentos quando se referem a mim. e eu, meu deus, como volto para seus braços que não me envolvem, como durmo na cama de um homem que não me deseja?

eu me pergunto essas coisas porque existe um mecanismos em mim que não consigo explicar, ou criar justificativas para as ações. esse mecanismo é um negócio estranho que me toma de assalto felicidades tão momentâneas, tão fugazes....

ao passo que me dou em poucos minutos de prazer (e um prazer tão banal) eu sofro por horas (e deus queira que não sejam dias) ao concluir que não importa muito meu desejo, vontade, meu carinho, minha atenção...
ele é alguém que não quer isso, pelo menos não de mim.

13.4.11

por um tempo me afastei das minhas palavras, pensando que sem elas os sentimentos poderiam se esconder no fundo da alma pelo periodo necessário para que o meu corpo pudesse novamente desejar outro corpo.

tentativa com meio sucesso e meio fracasso.

porque é uma mistura d'um carinho no rosto e um beijo na testa com desejos de mulher e sonhos de menina.

estou de volta ao lugar de sempre.

8.4.11

Eu sou uma moça muito nova, ainda estou aprendendo a lidar com as responsabilidades de um corpo adulto, de uma mente incoerente, com desejos incontáveis e sonhos pra lá de qualquer coisa. Por isso me apanho vezes por outra falando sozinha e ensaiando frente ao espelho diálogos com os homens da minha vida.

Busquei a maturidade quando ainda aos 14 anos decidi não viver em São João de Meriti, pra isso pouco importava que o inicio de uma vida sozinha seria no interior do estado do Amazonas ou num cafofo quente dividido com outras meninas no próprio Rio de Janeiro.
A opção do interior foi a que me surgiu primeiro, e foi algo tão inesperado mas bem-vindo que não faria sentido alocar hoje algum significado metafórico ou filosófico a ela.

Localizada no médio curso do Rio Solimões, a 500 km da capital, Tefé não se apresenta nenhum pouco atraente para alguém que chega. Seja o sol forte, o calor quente, a fala enrolada dos “nativos”, seja o mercado pequeno cheio de enlatados velhos e caros ou os córregos de esgoto que passam por todas as calçadas; talvez a comida que não é lá muito boa ou o transito caótico constituído de 95% de mototaxistas que não respeitam qualquer sinalização. Aos olhos de um recém-chegado tudo isso misturado ao fato da solidão potencial que a todos cabem, fazem dessa pequena cidade um ambiente inóspito mas que sugere boas alternativas quando o caso é você aprender a suportar você mesmo.

Encarei a tarefa com gosto e nem importava as variáveis que listei acima, não lamento por minha desatenção ou ânsia de procurar aqui um sentido maior que aquele descoberto na faculdade que após alguns anos me foi confirmado com a leitura das linhas que estão na minha mão: não conseguirei nunca separar tão bem a vida profissional da vida pessoal.

De fato, sempre vi uma coisa ligada a outra e levando em consideração algumas experiências passadas concluo que seja esse meu fardo ou vantagem.
nos próximos anos terei como confirmar essa conclusão.

6.3.11

Medos, temores e inseguranças são perfeitamente compreensíveis, mas de fato não há nada a fazer, já que os sentimentos pessoais são quase inacessíveis a não ser para quem os têm.

18.2.11

Tres vezes a transcendencia e tres vezes a imanencia em uma tabela
que fecha todas as possibilidades.

Nós não criamos a natureza; nós criamos a sociedade;
nós criamos a natureza; nós não criamos a sociedade;
nós não criamos nem uma nem outra, Deus criou tudo;
Deus nao criou nada, nós criamos tudo.


A modernidade não tem nada a ver com a invenção do humanismo, com a irrupção das ciencias, com a laicização da sociedade, ou com a mecanização do mundo. Ela e a produção conjunta dessas tres duplas de transcendencia e imanencia, atraves de uma longa história da qual apresentei apenas uma etapa por intermedio das figuras de Hobbes e Boyle. o ponto essencial desta Constituição moderna e o de tornar invisivel, impensavel,irrepresentavel o trabalho de mediação que constrói os hibridos.Seria isto capaz de interromper este trabalho? Nao, pois o mundo
moderno pararia imediatamente de funcionar, uma vez que ele vive da mistura, como todos as outros coletivos.
A beleza do dispositivo surge aqui em toda sua intensidade.
A Constituição moderna permite, pelo contrario,a proliferação dos hibridos cuja existencia - e mesmo a possibilidade - ela nega.

Usando tres vezes seguidas a mesma alternancia entre transcendencia e imanencia, e possivel mobilizar a natureza, coisificar o social, sentir a presen~a espiritual de Deus defendendo ferrenhamente, ao mesmo tempo, que a natureza nos escapa, que a sociedade e nossa obra e que Deus nao interfere mais. Quem teria resistido a uma tal construção?
Foi realmente preciso que acontecimentos inusitados viessem enfraquecer este possante mecanismo para que, hoje, eu possa descreve-lo com esta distancia e esta simpatia de etnólogo para com um mundo em vias de desaparecimento.

28.1.11

o abandonei alguns dias
por minha promessa de colorir as palavras
pelo sonho que a alma deveria sorrir.

Sorrir com todas as cores.

a prudência com doses de medo
me levou àquela rua estreita
podia ver pessoas das janelas de suas casas
jogavam flores mortas
quando o amarelo não era brilhante
e o verde das folhas um escuro de matiz indefinida.

passava dias de baixo de sua janela
podia apenas ver as cortinas
por tras delas as sombras
delineavam a forma da sua alma.

Ainda tão obscura, tão distante...

o que vi era reflexo
nos meus ouvidos frases
cores da unha com nome de café
eu sorria com os olhos
tu, desequilíbrio de minha moralidade.

Não poderia sequer me esforçar esquecer.


este ardor de amar em silencio
aceitação da forma virtual.

esperar o tempo necessário?
fato.
quando a sombra me amaria?
nunca.

a capital o tomou de mim
e tu nunca a deixastes
a mulher "pequena e bela"

Eu nunca fui sua pequena e bela.

continuo...
conforme ando
mais estreita, mais vazia
a rua ou a alma

espero...
uma cortina a se abrir
cores ou sombras

Não há o que dizer.

p/f.

28.12.10

dói muito. seria presunção dizer que dói mais em mim que em outro ser.
mas me admiro com minha capacidade de tornar tudo complicado, angustiante, lamentável.
minha alma experimenta uma inquietude característica daqueles que estão perdidos, que não compreendem muito bem seu papel no mundo, que não consegue vislumbrar um motivo real (inventado) que justifique buscar felicidade.
talvez as escolhas não sejam as mais acertadas, talvez seja o medo que sinto cortar cada osso de meu corpo.
talvez eu esteja descobrindo o quanto covarde eu sou.

tenho feito desses dias os mais cinzas que lembro, e me pergunto quando trarei para eles alguma cor.amor.coragem.

20.12.10

eu sinto nojo, vergonha e pena de mim.

há algo que impede que as pessoas sejam sinceras comigo. há também uma dose forte de minha parte de um sentimento que não sei nomear - desconfiança, talvez, desapego.
procuro classificar estas sensações e não passa de um exercício medíocre.
medíocre tal como eu mesma.

sinto que cada dia que passa fico sem lugar, fico sem amor, fico sem vida.

escrever me machuca mais do que em qualquer outro, porque é um reconhecimento silencioso da minha incapacidade de ter neste outro o carinho que preciso.
me relaciono com pessoas distantes mas não sei se é por que eu quero isso ou não consigo ser diferente.

ando por demais triste, ansiando por estar naquele mundo que inventei e é confortável. longe de mim, de minhas referências e drogada... pelo menos assim as questões não me vêm a cabeça.

por que me exponho para um homem que por vezes demonstrou sentimento algum por mim, nem quando abortei um ser que era fruto dele também.
por que apostei minhas fichas em um homem que saboreia meu sexo pensando em outras mulheres.
por que tento olhar nos olhos de pessoas que apresentam de forma fraca e dúbia aquilo que deveria ser forte, chamada por alguns de amizade.
por que não consigo enfrentar a mim mesma quando penso que nada disso vale a pena.
por que não tenho coragem de acabar com isso
porque acho que vai passar, tudo vai passar

18.12.10

é muito difícil quando você percebe sua mudança de forma tão enfática.
é um choque.
uma crise.

sempre soube da minha incongruência familiar - de pensamento, de gosto, do modo de vestir, do que ver, como falar...
mas passar esse tempo fora só expôs ainda mais tudo isso,
só potencializou minha convicção da categoria "peixe fora d'água" quando entro nesta casa.

meus irmãos cresceram, um abandonou a escola, o outro repetiu de série
...eu quase choro...

o alto nível de estresse por qual passam meus pais, faz meu nível de depressão tornar-se maior. minha decepção, meu transtorno. é muito cedo pra dizer que cansei de argumentar a favor de outros valores que não apenas a moral do trabalho...

todos meus irmãos trabalham no negócio do meu pai, mantêm a coisa na família mas não valorizam o estudo, o conhecimento, a leitura, em última instanciá, a informação.

eu sou aquela que ninguém quer ser, aquela que ler demais, que é estranha, que se veste mal, que não sabe e não entende nada daquilo que eles consideram importante.

o que aconteceu comigo?
ou
o que aconteceu com eles?

dói mudar tanto

por vezes me vejo melancólica
outras vezes finjo não me importar
por vezes passa pela cabeça a responsabilidade que tenho de dar certo na vida.
outras vezes é pesado demais.

observo do sofá o diálogo que se desenvolve na sala, ao lado da tv, entre pai, mãe e filho...finjo não escutar focando os olhos nas linhas de páginas amareladas de um velho livro.

renúncia. cansaço. basta.
não sou mais daqui.

14.11.10

essa curta vida me faz (re)correr aos sentimentos mais puros que uma mulher se permite sentir.