Tres vezes a transcendencia e tres vezes a imanencia em uma tabela
que fecha todas as possibilidades.
Nós não criamos a natureza; nós criamos a sociedade;
nós criamos a natureza; nós não criamos a sociedade;
nós não criamos nem uma nem outra, Deus criou tudo;
Deus nao criou nada, nós criamos tudo.
A modernidade não tem nada a ver com a invenção do humanismo, com a irrupção das ciencias, com a laicização da sociedade, ou com a mecanização do mundo. Ela e a produção conjunta dessas tres duplas de transcendencia e imanencia, atraves de uma longa história da qual apresentei apenas uma etapa por intermedio das figuras de Hobbes e Boyle. o ponto essencial desta Constituição moderna e o de tornar invisivel, impensavel,irrepresentavel o trabalho de mediação que constrói os hibridos.Seria isto capaz de interromper este trabalho? Nao, pois o mundo
moderno pararia imediatamente de funcionar, uma vez que ele vive da mistura, como todos as outros coletivos.
A beleza do dispositivo surge aqui em toda sua intensidade.
A Constituição moderna permite, pelo contrario,a proliferação dos hibridos cuja existencia - e mesmo a possibilidade - ela nega.
Usando tres vezes seguidas a mesma alternancia entre transcendencia e imanencia, e possivel mobilizar a natureza, coisificar o social, sentir a presen~a espiritual de Deus defendendo ferrenhamente, ao mesmo tempo, que a natureza nos escapa, que a sociedade e nossa obra e que Deus nao interfere mais. Quem teria resistido a uma tal construção?
Foi realmente preciso que acontecimentos inusitados viessem enfraquecer este possante mecanismo para que, hoje, eu possa descreve-lo com esta distancia e esta simpatia de etnólogo para com um mundo em vias de desaparecimento.