26.5.08

conversa de não[s]

- Bom dia, você pode conversar comigo?
- Bom dia, ora... claro que sim!
- que bom, estou me sentido abandonada, entende?
- todos nós em algum momento na vida nos sentimos assim...
- queria que comigo fosse diferente
- não ligue pra sua vontade, todos nós queremos isso.
- minha mãe que costuma falar isso, vontade dá e passa.
- e a minha também!
- só que eu sempre a ouvi muito e por isso só agora tenho coragem de assumir tais vontades
- não ligue pra isso, geralmente só começamos a ouvir novamente quando ela morrer, ou você ter seus filhos
- não diga isso, não quero a morte dela, nem tão pouco ver meus filhos como ela me vê.
- ora essas? por que não? não sabe daquela antiga conversa de que os filhos são reflexos dos pais?
- claro que sim, mas discordo. Cara, estaria ferrada se isso fosse verdade...
- esqueça menina, você só vai perceber mais tarde.
- esqueça você, alias esqueça, não quero mais da sua conversa. Ora lhe chamei pra uma conversa e não previsões quanto ao meu futuro ou os dos meus filhos.
- não seja tão dura
- não sou dura, apenas verdadeira
-verdadeira? diria que você se pensa verdadeira
- desculpe mas acho que não preciso ouvir isso
- ah não? pois reafirmo. as vezes é necessário manter o suspense da vida e não se precipitar em desenhar os encontros que são casuais. outras vezes é preciso um tapa sem mão pra entender que é necessário aprender ouvir, outras falar e bem mais esperar. A ansiedade nunca é vista como uma virtude, será porque?!
- acabou o discurso? posso?
Ele consentiu com a cabeça e ela saiu esbaforida de tanta raiva que sentia daquele velho que estava com a razão. Fim da estória e fim de uma fase.

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