26.7.08

.................................................................... 05/07/2008

o céu e o meu cinza

o relógio na ultima vez que olhei marcava 17:43, depois fechei meus olhos e passado um pouco mais de tempo, o saculejo do onibus, as conversas alheias [que chamam nossa atenção], o vento no rosto, tudo passa, tudo se distancia... apenas a saudade fica em cena.
Esse sentimento me fez sair daquela esfera movimentada, eu estava ali e não estava.
Foi quando abri os olhos e o que me esperava era um horizonte escuro, de nuvens carregadas, pesadas de chuva e chuva forte [eram com eu]. Parecia que não era dia, que não era um fim de tarde com por-do sol. Engano meu. Percebi que as pessoas na minha frente estavam iluminadas, e não era luz sobrenatural, luz que quem vê está em outro plano [na verdade se fosse isto, eu seria a ultima a perceber essa luz], era o sol que transpassava as janelas, os bancos e se refletia naqueles que eu mal conhecia.
Essa luz que me deixou de boca aberta, sem ação, sem raciocinio, me fez contemplar. Contemplação: vontade de parar ali, sentar no meio fio e olhar, aproveitar os instantes que o cinza e o vermelho-alaranjado dividiam o céu, que delimitavam os espaços ou lutavam por eles.
Foi nesse espaço curto de tempo que me dei conta da grandiosidade que me cobria a cabeça, das nossas inconstancias, dei conta também daqueles fenomenos e da minha insensibilidade, da minha [e apenas minha] estranheza.
Estava ali naquele momento, o meu corpo e a minha mente [talvez a primeira vez que consegui mante-los juntos até aquele momento).
Pertencia a mim essa experiencia, de me reconhecer pequena, passageira, com o mundo maior que mim a minha espera, só que ele é maior que minhas ambições [e ações].
Contemplar me impediu de agir. Não fotografei aquilo.
No fundo sei que não conseguiria transmitir as sensações que me cortavam registrando com minha fotografia.
Precisava ali viver e não somente olhar.

Um comentário:

  1. é, o rio negro é incrível e viajar na balsa que sai de ré é impagável. isso pq vc nem passou pelo encontro das águas. sua descrição da travessi a bem podia ser uma foto: tadas as cores, as manchas de diesel na água, as crianças pulando do flutuante. atravessar as águas do principal afluente do maior rio do mundo não é só uma sensação, é tb um símbolo. e não se preocupe com a sensação de ser um turista, provavelmente ela nunca vai passar: as dimensões amazônicas são grandes de mais para o ego de qualquer pessoa no mundo. mas, apesar disso, esse lugar tem uma humildade e simplicidade apaixonantes, vc já começou a perceber isso: tudo aqui tem uma beleza sincera, só quem tem bons olhos pode perceber isso. é nessas horas que vc pensa: "devia ter comido menos jaraqui"... só espero que quando voltar e atravessar o rio negro vc chegue "no" cacau, e não "em" cacau. bjus!

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