23.12.08

Queridos tenho que lhes fazer saber dessas coisas, talvez por isso escrevo não agora com medo, mas com melancolia. Sim, melancolia. Ela invadiu o peito de manhã e os sonhos que tinha e planos que fazia eu com tanto gosto se esvaiam de mim, como aquela poeira de filme que entra pela janela, misturada a luz do sol, que a travessa a cortina de cor amarela que com contraste faz o escuro do quarto ficar bonito. é assim, às vezes a vergonha deixa a gente escura, deixa os olhos fundos e é só porque vejo que o ano finda e o próximo vem, que esse sentimento toma conta de mim nesses dias.
ainda não descobri o que faço de melhor, nem como melhor fazer o que gosto. uma pouca boa vontade, misturada ao desprezo a que sou assaltada depois de um pouco tempo de felicidade.
porque é assim mesmo, todos tem seus altos e baixos e são das médias que fazemos as escolhas. listei os prós e contras de morar sozinha, no final a coragem faltou pra assumir tal responsabilidade. e é justamente ela que faz com que eu me afogue nessas palavras, me sinta mais baixa, mais sórdida. sórdidos na verdade são os amigos que andam me fazendo falta, queria encontrar com um agora e esquecer das minhas próprias angustias, apenas ouvir as dele, tenho certeza, ficaria mais confortavel que agora. Tive ontem vontade de beber, coisa essa que pouco faço por escolha, gosto de ter os sentidos bem apurados e perdê-los por, quem sabe, três dias, seria melhor. Beberia por isso, não por aquele gosto de alcool, e sim porque alguma substancia deixa de ser produzida pelo corpo. alguem me falou isso e poderia alocar a esse alguem uma mera referencia, daquelas do tipo "pessoa desconhecida"/"pouco importante". só que não. na verdade não posso é dizer o nome, na verdade não posso nem nomear o que sinto, nem o que acontece. destoado demais essa parte, que só eu mesma falando nos ouvidos do alguem pra fazer sentido. Já estou pelas tabelas, e são dez da manhã, poderiam ser onze da noite. poderia não ser tempo, não ser dia, nem noite. ser nada, nadinha.
a lembrança que me vem toda noite, antes de dormir, enquanto penso no dia, é sempre das palavras não ditas e isso me magoa demais. é triste, sem propósito. é solidão. por falar sozinha e pensar muito e por me apegar em folhas que são escarradas por mim, essas lágrimas que não caem do rosto é prova da dureza que é sentir desprezo.
elas secam antes de cair, e nem pra me fazer de coitada, consigo.
com afeto e sem comoção,
jaqueline



ps.: pelo menos o céu do meu gmail tá bonito hoje,
sem chuva e raios, só um azul bonito.

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