8.12.08

só porque desliguei o computador mas não consegui dormir que volto a este lugar. só porque como algumas pessas já sabem, minha vontade de escrever vem assim, do nada. só porque os pensamentos e desejos irremediáveis que disfarçamos durante o dia explodem durante a noite, venho aqui procurar palavras para não tocar a mim mesma e satisfazer a vontade do corpo. e não importa quem ou quantos olharão pra cá e na verdade só sei que eu daqui um tempo vou reler cada palavra. é uma vergonha se deixar levar dessa maneira, preferiria andar e procurar uma poesia nos olhos de alguem, mas não posso, meu pai não me deixa sair uma hora dessas. hoje pude me deliciar diante alguns versos de michel e tenho certeza que isso me deixou inquieta, como também a conclusão que os dias passam muito rápido. talvez o sono não veio porque o medo que me entope as vias do ar está cada vez mais forte, tenho medo do olhar daquele que comeu e não gostou (com perdão do trocadilho). ando por demais agressiva segundo explicações esotéricas (que eu poderia até acreditar) é porque marte está passando pela minha oitava casa. abandonar essas maluquices agudas seria arrogante. coloquei no msn "num bem estar que dá até medo" e me perguntaram o motivo de bem estar. disse que não sabia (e não sei mesmo) apenas sentia (sim, não sinto mais, fui pensar sobre ele e ele correu de mim). agora mesmo, aqui, nesse instante vejo a contradição que invade e me toma como sua e se deixa ser minha. não gostaria de transformar seus olhos em janela para minha esquisita amargura, só abriria minhas pernas para ser porta de prazer. em sete minutos escrevi tais coisas e em muito menos alguem vai ler isso. e isso importa muito pra mim. o tempo que levo pra dizer os sentimentos, não é o mesmo que eles se transformam em imagens de mim.

forcei o ponto que não era final

quarenta minutos depois tive vontade de desfazer essas palavras e isso seria justificável. a autora sou eu e eu mando aqui. mas não apago. às vezes as risco. um dia explico o que sinto mesmo ao escrever. mas é quase o mantra que deixo nas entrelinhas: sentir apenas. muitas vezes até a disposição das frases tem um sentido pra mim. sentido que vem de sentir e nem sempre associo isso ao pensar e refletir. alguma vez já disse que escrevo desse jeito porque acho bonito, quase como um juntar palavras e descomplicar minha própria idéia de escrever. alguma outra vez, já assumi o quanto é precioso não usar as palavras tão corretas e não deixar-se tão clara e transparente. a gente fala melhor de si quando se esconde mais. uma série de gratuidades me consomem dessa maneira e aqui guardo os poemas desleixados, tal como meus cabelos. não como artista das palavras - não sou capaz de tamborilar com tanta destreza por elas - tropeço entre as virgulas e pontos e reticencias. essa relação de amor e odio, que por vezes assume um grau de traição, me faz sentir como um corno a quem não pertence sua mulher, tal como os textos que aqui deixo guardados. para todo mundo que não eu, eles se constroem diferentes. antonio cicero já escreveu coisa linda que jamais eu escreveria, assim, abro um parenteses para ele:



(Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que de um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.)

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