O problema é que, de tanto ver no Outro sempre o Mesmo - de dizer que sob a máscara do outro somos "nós" que estamos olhando para nós mesmos -, o passo é curto para ir direto ao assunto que "nos" interessa, a saber: nós mesmos. Pessoalmente, estou mais interessado em saber como os outros "representam" os seus outros que em saber como nós o fazemos; afinal, os outros são outros porque seus outros são outros que os nossos (nós, por exemplo)" (VIVEIROS DE CASTRO, 1999)
Vira e mexe me deparo com as dúvidas comuns daqueles que se iniciam numa profissão, principalmente tratando-se da acadêmica, em que a classificação é o primeiro passo. Sim, você precisa se posicionar metodologicamente, teoricamente, pessoalmente. Isso implica, de certo modo, na eleição de algumas noções bastante específicas sobre o papel que você desempenha numa relação (com a instituição que você trabalha, com as pessoas que você “estuda”, com os autores que você utiliza). Chego neste ponto, relação com os autores que utilizamos. Já dizia Simmel, a interação ocorre até quando na frente do espelho nos olhamos antes de sair de casa e pensamos no outro... De fato começo aqui me embaralhar e jogar pra essa categoria “Outro” as responsabilidades de minha própria condição. Deixe-me explicar.
A temática¹ da alteridade já fora tratada de variadas formas pelos mais diversos autores desde as críticas pós-modernas², passando pelos "interacionismos" e os contatos interétnicos³, diga-se de passagem que todas elas tem um doce, como uma cereja do sorvete - as contribuições são inegáveis. Contudo o que penso com mais afinco é essa relação que nós diante de sistemas de pensamentos tão particulares nos dispomos, com nosso próprios termos, explicá-los.
É uma sinuca de bico.
Daí chego no (meu) ponto crítico, que nos ultimos meses me rouba horas e horas... Falar de arte indígena expressa (nas entrelinhas) a ânsia de compreender – mas do que explicar – sistemas significativos e construídos simbolicamente. Sim, estou partindo do pressuposto que a vida social, quer seja em seus aspectos imateriais, quer materiais (tecnologia, instrumentos, objetos) possui uma dimensão simbólica inerente.
Mas porque tivemos nos últimos anos essa mudança de posicionamento?
Ando confusa. Se por um lado piso forte contra as interpretações arqueológicas* que pressupõe a “arte” indígena como sistemas de comunicação a partir de um movimento da antropologia (e há vários trabalhos que se empenharam na tentativa de “traduzir” os signos de uma arte que comunica posições sociais – lembro aqui dos Kayapó), também ainda não consigo sustentar uma hipótese que não lance mão desse aspecto comunicativo da arte.
As expressões humanas carregam em si um aspecto fundamental: comunicação. Troca talvez seja uma noção melhor. E isso implica ir um pouco mais fundo... as relações sociais se dão a partir de nossa capacidade e necessidade de interação, a necessidade desse tal outro.
Alguém quer falar sobre isso?
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1. palavra de antropólogo e permito usá-la aqui só pra exercer esse lado pouco desenvolvido de minhas expressões.
2. como não lembrar da questão do autor, autoridade etnográfica, questões de literatura e antropologia...
3. isso então é uma loucura, só de pensar que a etnologia brasileira é divida (porcamente) entre "classica" e "contatualista"... lembro também do texto clássico do barth...
*. Exemplo o trabalho da denise shan "linguagem iconográfica da cerâmica marajoara", mas devo dizer que acho isso mais interessante que as interpretações figurativas do andre prous.
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