9.2.08

Olhando por uma janela

Ela estava indo para o cinema, sua impaciência se mostrava nas rugas da testa, mas ela não queria mesmo escondê-las, para justificar seu atraso inventaria um engarrafamento para o amigo. Ela olhava pela janela do ônibus o mundo que se movia ao seu redor e numa praça repleta de crianças jogando bola, observou um homem que caminhava com uma mochila nas costas, pensou ela que estaria chegando do trabalho, a expressão dele indicava um desespero escondido naquele olhar apurado de alguem que já teve um filho.

É isso, ele teve um filho, era lindo, era aquilo que ele um dia pensou que um filho seria, mas não foi. Aquele homem tranpareceu a agonia de alguem que perde, um perdedor nato, uma daquelas pessoas que fazem da vida uma projeção da espectativa de um outro, se deixa invadir pela vontade ser um feito por dois, coberto pelo amor e desejo de uma mulher, ele a amava e a perdeu quando mais a queria do lado para criar e educar aquele que seria o presente dos dois ao mundo. Ela morreu no parto, uma daquelas complicações em que você deve escolher quem vai viver, ela como uma mãe deu sua vida por aquele ser que carregava e tomara forma em seu corpo. Com ela foram os sonhos de ser mãe, de ser pai e o filho nem pode ser filho. A expressão de desespero daquele homem era de alguem que foi roubado. Roubaram não só dele mas de seu filho, a relação que seria, em seus planos, a mais leal.

As rugas desapareceram do rosto dela e se deu conta que o mundo não é bom e tambem não seria justo com a maioria das pessoas que ela via por aquela janela, as pessoas vivem, apenas isso.
Tudo mentira, ela que não foi justa com aquele homem que apenas procurava o filho no campo para levá-lo para casa e jantar em família com a esposa. Ela inventara aquele drama para transportar para aquele rosto aquilo que ela sentia, colocar naquela mochila um pouco do peso que carregava e pensar que sua vida era melhor, mais leve...

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