17.2.09

não poderia eu dizer coisas fantásticas aos seus ouvidos e saborear as tensões que tais coisas causariam? suplico um pouco de boa vontade e tu me surpreenderias o peito. poderia era sufocar minhas lamurias apenas com um beijo apaixonado, de olhos fechados e gosto de vinho ou canela. a resposta nessa cena seria a de mulher embaraçada que no fundo dos olhos carrega a vontade de junto estar, mas desperdiça o tempo por nada falar e por isso mesmo não conhecer. Pero quizá, melhor não conhecê-lo. E digo, duvidaram de minha inocência quando ao assumir o papel de filha rejeitei o de amante e quando displicente direcionei o olhar para aquele espelho rachado e contemplei o quadro bem pintado que atacava o cotidiano - era mais organizado e bonito que o próprio real.

Imaginei a fotografia que faria e o retrato que nunca me deixaram concretizar. um desejo meio bobo que como um silencio surdo se espalhou pela casa... escondi a camera em baixo da cama e sussurrei à minha própria alma a correnteza que me levava por aquela luz pobre que entrava pela janela. Confesso, até hoje não tirei a camera de lá, e a covardia que afogou o peito em lágrimas não se contentou com minha abstinência, faz já dois meses que não fotografo e cinco séculos que não vivo a experiência de ver o outro pelo visor. é como cinco séculos, apesar de nem três décadas este corpo ter. balbucio algum verso torto que de encontro a minha esperança de fazer algo novo se perde em mais uma tentativa frustrada. gostaria era de poder colocar uma foto aqui e os olhos de meus leitores verem poesia nela. poesia, conto, quem sabe, ensaio. não aprofundaria nada, tal como são meus textos, meus trabalhos e minhas sensações.

confuso em certa parte e não era pra ser até certo ponto.

é um tirocínio. uma caminhada sem erros ou acertos, só um caminho. um dia espero encerrar minhas incertezas numa frase de efeito, frase que será lida pela percepção, e os signos serão os elementos do quadro instantâneo. invenção, criatividade desassossego da mente. fugir de certos pressupostos garante que construamos outros, mas irresponsavelmente me indago sobre que inventividade é esta. que obra e pessoa se reserva espaços de tempo para este fim? e por que deveria eu me prestar a isso? não há respostas e no fundo nem as procuro, me contento com a evanescência que me é característica.

***

costumeiramente (gosto muito de usar "mentes" nos escritos) aplico uma fórmula que as vezes funciona e me agrado com o resultado... mas hoje foi diferente e após escrever veio uma onda que apagou tais sensações. não vejo motivo pra esse comportamento e não consigo explicar a mim mesma as causas dele. confesso que juntar as palavras desta maneira resumem e mostram a incerteza que consome algumas horas dos meus dias, porque é rotineiro demais. esqueça.

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