22.3.09

maria olhou com discrição e alguma vergonha para os olhos dele, que fugiram dela num instante só, rapidamente se viraram para a direita pro cartaz do filme que seria exibido na sala 1. ali era grande e você poderia se perder entre as cadeiras vermelhas. e foi exatamente o que planejaram, ele e ela. não suportaram a idéia que ambos continuaram com o hábito de ir ao cinema nos domingos no inicio da noite. não no cinema, mas naquele cinema que por tantos anos foram na companhia um do outro, que tantas vezes ele a vira chorar no final, ou no inicio, ou no meio - era bem verdade que ela era uma chorona e fazia questão de esconder isso. ele respeitava sua vergonha e fingia não notar os olhos vermelhos e reservava o silencio [que não era constrangedor] para aqueles minutos em que o tom avermelhado do glóbulo branco precisa para voltar ao normal. ela fingia que não sabia que ele fingia não notar.
a fila aumentou, outras pessoas chegavam em poucos minutos e em um tom indiferente [forjado com pouca chance de convencimento] ele veio cumprimentar maria, que vendo a patética situação criada pelo hábito cinéfilo se viu em um beco sem saída, do tipo se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. o bicho em questão era o desejo, com cinco xícaras de amor, três de tesão, oito de cumplicidade. não entendiam como deixaram as coisas chegarem a este ponto, mas sabiam que não fora algo planejado, consciente.

- oi...
- oi - com um sorrisso no canto da boca misturado com um nervosismo que dava-lhe cólica maria respondeu - e você continua vindo aqui...
- pois é, e você também!
- mas eu posso, afinal eu que te trouxe aqui, lembra?

sentaram-se juntos como faziam e foi quando ele passou seu braço esquerdo sobre os ombros dela e como reação do corpo, ela se encollheu e sua cabeça descansou sobre ele.

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