24.3.09

notas em transparência [tentativa um]

Você é tudo o que eu não queria pra mim, você apesar de toda erudição não completa minha vontade e me despreza com o tom soberbo. Confundi minhas expectativas quando me entreguei a este que me leva com destreza e sinicamente me trata como mais uma. Porque eu não sou mais uma. Eu sou mais do que você antes nunca pensou ter. E de fato, sua fraqueza não me deixa ser sua, nem você de ninguém. Arranjei os encontros, desmenti minhas invenções dando-lhes mérito ao acaso, mas cada parte da estória sabia e planejava silenciosamente as ações. O não ligar, o não falar, o dar silencio, o se entusiasmar - até o gemido - vezes acho ser consciente, vezes acho ser de gente distraída... mas vem de você e também sai de mim.

E não há no mundo borboletas que já não estiveram em minha barriga quando pensei e ansiei por um encontro, por um beijo. Cada particularidade das horas compartilhadas com você me consome a alma e a tristeza - e em algumas situações -a alegria. O que me atormenta saber é que hoje viram em mim solidão, ninguém me disse, mas pude a ver refletida nos olhos de diversas pessoas que esbarraram em mim no centro da cidade, e a vergonha desse ar solitário me impediu de encarar amigos no metrô e cumprimentar um professor que amo feito pai e admiro como mestre. Toda estabilidade que construi nesses meses de leituras e entregas etnográficas, literárias, me fez perceber que a instabilidade não é uma oposição, é como aquela coisa de entropia, ou de ordem na desordem... Na verdade crua que sangra e pulsa nas pontas dos meus dedos, me observei nua diante do espelho em plena uruaguaiana e era possivel ver as pessoas passando por detras de mim: a moça de casaco verde, o senhor de blusa amarelo-manga que odeio, um vendedor de guarda-chuva que elevou seu preço quando o céu começou a chorar com piedade dessa que vos escreve. Sucumbi no final da tarde quando percebi que via você em homens vários e praguejei até a minha décima terceira geração no momento que meu coração disparou ao supor que aqueles passos eram teus.

Me resta fugir do emaranhado de desordem que se instaurou na minha vida curta, analisá-la com o intento de encontrar ordem onde pensei um dia não ter.

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