17.5.09

cá estou mais um vez
de frente pra mim
sem espelho algum por perto
mas me vejo
transparente.

***

foi aquele livro, tenho certeza, foi ele que fez isso comigo, com a gente.
e reescrevo o parágrafo e apago seu inicio e procuro sinonimos para o fim.
não há...
nem sequer existe fim, e o começo, data certa.
há na verdade [ou queira o coração acreditar na] a besteira da previsibilidade
e não esqueço da mania esquisita de acordar e do café forte demais.

foi quando me entreguei aos bobos jogos de seduzir: com luz propícia, vinho bom, beijo molhado.
não preciso complicar a estória e ninguém precisa,
a vida por si só complica quando mais a gente quer simplificar.
são jogos sempre, são regras sendo quebradas, e por isso mesmo, sendo inventadas:
feito quando a gente joga bolinhas de gude...
quantas vezes mudamos o jogo porque meu irmão sabia melhor que eu dar o peteleco na bola e a vantagem dada a mim nada mais era que a vontade de competir que pulsava por nossas veias.

pra falar de amor não preciso recorrer a metafora do jogo, nem a do teatro.
talvez a do porco-espinho com frio.


eu me enveredei por esse caminho e toda quinta me sinto só demais por causa dos diagnósticos de vida moderna que acabam comigo. é quando na sexta procuro um amigo, um lugar quente, um remédio contra a solidão [e é bom, juro]. mas no sábado não dá pra aguentar os espinhos da interação, é quando machucada volto pra casa e passo toda a semana aliviada porem desconfiada com minha vontade de viver.
É escape a necessidade de ver a vida acontecer no mundo: os outros preocupados com o tempo, com o corpo, com o dinheiro.

aí me sinto mais e melhor... preocupo-me com toda a besteira que é esperar a vida acontecer.
um dia apenas vou dar atenção aos detalhes mais ínfimos da casa (como minha avó, meu pai e minha mãe) e infelizmente encarar meu trabalho como minha vida (como certos amigos)... e só de vislumbrar isso me causa dor pensar envelhecer.

2 comentários:

  1. Cada coisa ao seu tempo e modo...

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  2. fábula de Schopenhauer sobre o porco-espinho:

    um grupo de porcos-espinhos ia perambulando num dia frio de inverno. Para não congelar, os animais chegavam mais perto uns dos outros. Mas, no momento em que ficavam suficientemente próximos para se aquecer, começavam a se espetar com seus espinhos. Para fazer cessar a dor, dispersavam-se, perdiam o benefício do convívio próximo e recomeçavam a tremer. E o ciclo se repetia, numa infindável luta para descobrir uma distância confortável entre o frio do afastamento e a dor da união.

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