25.5.09

foi um frio na barriga.
de repente, um calafrio.
foi um sopro na nuca
seguido do dizer herdado de minha vó:
"passa morte que eu tô forte"
foi suspiro engolido.
soluço atravessado.
choro suprimido.
saudade sufocada.
e não me resta mais a fazer,
tão-somente lamentar.

22.5.09

existe uma resposta pronta.
mas pra quê existe uma resposta pronta se ela não está na ponta da língua?

17.5.09



"La valse de mon âme"

Eu sou uma
a quem pertenço só metade
que entre ruídos e esquinas disfarça
desaparece

Como perfume que misturado à essência natural
se renova com o tempo passado no corpo
esvai

Tocada por melodias
Encoberta por palavras sujas
Desmascarada por si
Uma metade há
A outra só deus sabe

Parte sou que sonha acordada
desabotoa o vestido
escreve poesias
olha o vento bater
corre em direção ao silêncio
anda sobre marés de pensamentos


Parte que suspira sem tocar o chão
colore os segundos
alimenta-se das próprias angústias
morre a cada duas horas
torna-se tristeza
nua
lânguida
pesada

Destoada com a voz
pinta os olhos
inventa estórias cor de rosa
arranja medos para esconder a covardia de viver
Apenas viver

Incerta com a metade que não descobre
sacia a fome de amor com a pele branca
pêlos macios
suor salgado
Sim, leves suspiros de paixão forjada

Cai sobre sua própria alma
Dança sozinha consigo
Comigo

Fecha as pálpebras ao olhar pra dentro
reencontra-se guardada em si

E somos nós em mim.
cá estou mais um vez
de frente pra mim
sem espelho algum por perto
mas me vejo
transparente.

***

foi aquele livro, tenho certeza, foi ele que fez isso comigo, com a gente.
e reescrevo o parágrafo e apago seu inicio e procuro sinonimos para o fim.
não há...
nem sequer existe fim, e o começo, data certa.
há na verdade [ou queira o coração acreditar na] a besteira da previsibilidade
e não esqueço da mania esquisita de acordar e do café forte demais.

foi quando me entreguei aos bobos jogos de seduzir: com luz propícia, vinho bom, beijo molhado.
não preciso complicar a estória e ninguém precisa,
a vida por si só complica quando mais a gente quer simplificar.
são jogos sempre, são regras sendo quebradas, e por isso mesmo, sendo inventadas:
feito quando a gente joga bolinhas de gude...
quantas vezes mudamos o jogo porque meu irmão sabia melhor que eu dar o peteleco na bola e a vantagem dada a mim nada mais era que a vontade de competir que pulsava por nossas veias.

pra falar de amor não preciso recorrer a metafora do jogo, nem a do teatro.
talvez a do porco-espinho com frio.


eu me enveredei por esse caminho e toda quinta me sinto só demais por causa dos diagnósticos de vida moderna que acabam comigo. é quando na sexta procuro um amigo, um lugar quente, um remédio contra a solidão [e é bom, juro]. mas no sábado não dá pra aguentar os espinhos da interação, é quando machucada volto pra casa e passo toda a semana aliviada porem desconfiada com minha vontade de viver.
É escape a necessidade de ver a vida acontecer no mundo: os outros preocupados com o tempo, com o corpo, com o dinheiro.

aí me sinto mais e melhor... preocupo-me com toda a besteira que é esperar a vida acontecer.
um dia apenas vou dar atenção aos detalhes mais ínfimos da casa (como minha avó, meu pai e minha mãe) e infelizmente encarar meu trabalho como minha vida (como certos amigos)... e só de vislumbrar isso me causa dor pensar envelhecer.

14.5.09

Eu não terei mais o trabalho de justificar aos meus movimentos psiquicos meus delirios. Não vou também me apegar as ideias de descontrole das emoções. No mais das vezes prefiro não recorrer, nem correr, talvez, sabe-se lá, andar a passos curtos e lentos - caracteristicos daqueles que sobem no muro pra ver a banda passar.

Tudo porque pela terceira hora seguida meus olhos desviaram do rumo dos meus pés e quase involuntariamente minha cabeça virou noventa graus e olhei aquele corredor [maldito].

E dessa maneira a banda toca,
o verso segue a prosa
e minhas mãos documentam os sentimentos.

Foi quando percebi que esse vazio, depois de sennetti e freud [e outro qualquer], não pode ser o mesmo, mesmo.

É uma leveza até,
porque não estou sozinha nessa,
porque meu sentimento não é autentico nem singular.

É calmaria até,
porque não restrinjo apenas a mim minha existência,
porque o sentido que dou a mim mesma depende daquele tenho para o outro.

...seja lá o outro que for.

11.5.09

A vida é um anonimato...
(o sr anonimo que visita minhas palavras)

nem sempre.
concordo em parte, discordo em outra.
mas julgo não ser tão bacana manter conversas nesses termos tão impessoais,
de fato, nem tenho que me preocupar com os anonimos que aprecem por aqui,
afinal de contas, se fosse assim deveria cometer jejuns litetários ou suicidios virtuais.

mas é engraçado o medo de mostrar-se,
na verdade,
o medo de se deixar saber quem é.

10.5.09

eu juro que nunca mais me permito transgredir minhas ideias e dilui-las em puro alcool.

discorrer e atualizar meus escritos, e recorrer aos momentos de prazer e desfazer as cadeias de pensamentos torturantes e escrever pra você, de você, com você.
nunca mais me deito torta, nem balanço minhas pernas naquelas cadeiras pesadas de estofado azul escuro, nem ligo teu rádio, ou computador, nem quero saber tua senha, nem desfolhear livros teus.
nem suponho minha vontade de saborear sua performance erótica, de reviver seus olhos revirados de prazer, nem quero pensar nos copos quebrados, nas fotos vistas, nos momentos intimos guardados.

porque isso não é viver. viver nem sequer pode ser definido por um ser assim como eu, que ao não saber dominar seus instintos de modo civilizado se entrega a auspiciosa maneira de falar de sentimentos por simples palavras.
nem minha própria experiencia estética se elabora de forma específica,
nem meu vulgo "olhar" é produto interno bruto,
é na verdade, na real e intransponivel condição, fruto de um habitus.

nem quero pensar sobre isso. é intenso, demasiado intenso.

3.5.09

ah se você soubesse mensurar o meu desejo
se teus ouvidos traduzissem meus suspiros
teus olhos codificassem minhas expressões
minhas palavras não lhe fariam falta
e a lingua estaria livre para apenas sentir o sabor

2.5.09

se um verso pode ser mais atraente
me encanto apenas por essa possibilidade
vai que é o espírito de gente grande
que invade irresponsavel a criação